Um evento escolar com o propósito de valorizar as culturas afro-indígenas terminou expondo uma ferida ainda aberta: a persistente invisibilização dos povos originários no Brasil, mesmo em Estados como o Amazonas, que concentram a maior população indígena do País.
A Feira Afro-Indígena do Colégio La Salle, realizada em Manaus, contou com apresentações ao som de "Cunhã Tribal", do Boi Caprichoso, e da envolvente "Tuxauas de Abiayala", criando um verdadeiro espetáculo visual — mas também gerando críticas.
O que era para ser um momento de exaltação das raízes culturais brasileiras, especialmente amazônicas, acabou marcado por um simbolismo problemático.
Os dançarinos que interpretaram os “tuxauas” e as “cunhãs”, trajavam vestimentas que remetem aos povos indígenas norte-americanos, como roupas inspiradas em Hollywood — evocando figuras como Pocahontas, da animação da Disney. A escolha de figurino e estética destoou completamente da rica e diversa cultura indígena da região amazônica.
A ausência de indígenas nas apresentações foi outro ponto que chamou atenção. Em uma cidade como Manaus, que concentra mais de 71 mil pessoas indígenas, segundo o Censo 2022, a falta de representatividade autêntica reforça a exclusão histórica que esse grupo social sofre — inclusive nos espaços educativos.
Para especialistas e ativistas indígenas, o episódio revela não apenas um erro de concepção estética, mas uma falha estrutural de escuta e inclusão.
Embora a proposta da feira tenha partido de uma boa intenção — promover conhecimento e valorização de culturas historicamente marginalizadas —, o resultado escancarou o quanto ainda falta de compreensão sobre a pluralidade dos povos indígenas brasileiros. Em vez de serem protagonistas, os povos originários continuam sendo retratados de forma genérica e exótica, com base em referências externas que reforçam estereótipos coloniais.
O episódio reforça a importância de incluir vozes indígenas nos processos educativos e culturais desde o planejamento até a execução. Promover cultura não é apenas exibir danças ou músicas, mas garantir espaço real para quem carrega essa identidade. Sem isso, a celebração vira caricatura. Em tempos de luta por reconhecimento e reparação histórica, ouvir, respeitar e incluir os povos indígenas não é mais uma opção — é uma urgência.
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