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Terça-feira, 13 de Maio de 2025
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Extremismo de direita gera crise em faculdade; entenda

Estudante compartilhou símbolo nazista em grupo de colegas e levou liderança do MBL com discurso de ódio para evento acadêmico. Centro Acadêmico e coletivos estudantis cobram providências da direção. Faculdade promete investigação

Extremismo de direita gera crise em faculdade; entenda
(Divulgação/Cásper Líbero/Anna Cassiraghi)
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SÃO PAULO (SP) — Um caso de extrema gravidade envolvendo apologia ao nazismo e discurso de ódio dentro da Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, gerou uma crise interna e mobilizou o Centro Acadêmico Vladimir Herzog (CAVH), além de coletivos estudantis da instituição. O episódio teve início com a participação de uma liderança de extrema direita em uma atividade acadêmica e evoluiu para uma denúncia formal envolvendo símbolos nazistas e ataques discriminatórios contra figuras públicas.

O personagem central do episódio é o aluno Lucas Ramos Negro, que organizou, supostamente sem consenso do grupo, a participação de Pedro Umbelino — pastor da Igreja Vida Total (São Caetano do Sul) e liderança municipal do Movimento Brasil Livre (MBL), organização conhecida por seu alinhamento com pautas ultraconservadoras e por declarações contra minorias sociais.

Umbelino participou de uma coletiva de imprensa simulada da disciplina “Relacionamento com a Mídia”, na turma JO3F. Segundo o CAVH, ele foi levado à sala "contra a vontade do grupo que integrava". Após o evento, circulou livremente pelo campus, gravando vídeos dentro da faculdade — inclusive entrou na sala do próprio Centro Acadêmico, no terceiro andar.

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Grupo de WhatsApp para organizar a atividade da aula com símbolo Nazista

 

Alvo de ataques: ex-aluna Maju Coutinho

Em paralelo, estudantes da mesma turma relataram que o próprio Lucas teria feito comentários machistas durante as discussões em sala, entre eles uma afirmação ofensiva sobre a jornalista e ex-aluna da Cásper Líbero, Maju Coutinho. Ele teria alegado que a profissional só teria alcançado sua posição atual por meio do “teste do sofá” — expressão misógina usada para sugerir que mulheres conquistam espaços por favores sexuais, historicamente usada para atacar mulheres negras que ocupam posições de destaque.

 

Suástica e grupo restrito

A situação se agravou com a denúncia de que Lucas criou um grupo de WhatsApp para organizar a atividade da aula relacionadas a práticas antirracistas e, nele, usou como imagem uma suástica nazista — símbolo associado à ideologia responsável por crimes contra a humanidade, e cuja exibição é tipificada como crime no Brasil, segundo o artigo 20 da Lei nº 7.716/89, que trata da apologia ao nazismo.

 

Estudantes ouvidos pela reportagem, que preferiram não se identificar, disseram que não sabiam que o convidado era vinculado ao MBL, e tampouco tinham conhecimento da imagem com apologia ao nazismo usada no grupo de trabalho que foi formado para outra matéria. Segundo eles, “jamais teriam aceitado a presença do convidado ou permanecido no grupo se soubessem” dessas informações, vale lembrar que o grupo responsável pelo trabalho de entrevista não tem qualquer vínculo como o grupo onde a imagem da suástica foi compartilhada.

Os estudantes afirmaram também que Lucas escolheu cuidadosamente as pessoas com quem formaria o grupo da atividade, optando por colegas que, segundo eles, têm um perfil mais reservado, com menor inserção política no curso ou menos propensão a confrontos. A percepção é de que isso teria facilitado a imposição de decisões sem discussão prévia — como o uso da imagem de uma suástica como ícone do grupo.

 Convidado Pedro Umbelino e aluno Lucas Ramos 

 

Recorrência

Esta não é a primeira vez que casos de apologia ao nazismo ocorrem dentro da Cásper Líbero. A instituição já teve episódios semelhantes em 2019 e 2020, quando mensagens e símbolos associados ao regime nazista circularam em contextos internos da faculdade. Os desdobramentos dos casos anteriores não foram amplamente divulgados, o que, segundo representantes estudantis, gera um histórico preocupante de impunidade ou omissão diante de atos graves.

Caso que envolve a pauta já ocorreu anteriormente na instituição 

 

Posicionamento dos coletivos

Diante da gravidade dos fatos, o Centro Acadêmico Vladimir Herzog, em conjunto com os coletivos AfriCásper, CásperÁsia e Frente LGBTQIAPN+, enviou um e-mail formal à direção da faculdade cobrando explicações e providências urgentes.

“Não podemos permitir a presença de fascistas dentro do nosso campus. [...] A questão da suástica configura um crime federal que mancha nossa imagem enquanto instituição”, escreveram.

“Toda vez que tentamos trazer convidados relevantes do CAVH e dos coletivos para a Cásper — como o jornalista Sérgio Gomes, que foi amigo de Vladimir Herzog, foi torturado pela ditadura e é integrante do Instituto Vladimir Herzog —, temos uma dificuldade enorme. Não podemos permitir que um sujeito extremista tenha facilidade para entrar no nosso campus.”

No mesmo e-mail, os representantes estudantis solicitaram a expulsão de Lucas Ramos Negro e pediram um posicionamento público até o dia seguinte ao envio da denúncia, além da garantia de que episódios semelhantes não se repitam.

Faculdade se pronuncia

Em resposta ao episódio, a direção da Cásper Líbero convocou uma reunião de urgência com os representantes do Centro Acadêmico e dos coletivos. Durante o encontro, a faculdade informou que irá abrir uma investigação interna para o esclarecimento completo dos fatos, além de reafirmar seu compromisso com os valores democráticos, e o ambiente plural de ensino.

Especialistas falam em “discurso sofisticado” e normalização do ódio

A advogada Alessandrine Silva, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Amazonas, afirma que casos como esse representam uma escalada de discursos de ódio com roupagem disfarçada, mas profundamente violentos.

É muito importante identificar os discursos sofisticados, que contaminam o debate público e desqualificam temas relacionados a grupos vulnerabilizados, como LGBTQIA+, mulheres, crianças. Ao deslegitimar essas pautas, eles normalizam a violência”, afirma.

“O Brasil é um país absolutamente diverso. Alguém do Amazonas, de Alagoas ou do Ceará pode enfrentar a falta de saneamento básico e, ao mesmo tempo, conviver com violência de gênero ou preconceito racial. Reduzir o debate público e atacar a legitimidade dessas pautas é defender, na prática, a perpetuação da violência.”

A universidade como alvo do extremismo

O cientista político Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, também vê os episódios como parte de um fenômeno maior. Segundo ele, onde a extrema-direita assume poder, ela se torna inimiga da liberdade de ensino e de pesquisa.

“Esses grupos praticam agressões verbais, perseguições, intimidação e até agressões físicas. Nem os democratas, nem as universidades podem tolerar essas manifestações”, alerta.

“A omissão fortalece a ousadia dos extremistas. As universidades precisam coibir com medidas disciplinares, regulamentos internos e recorrer às leis que proíbem esse tipo de comportamento.

 

Mobilização estudantil continua

A crise na Cásper Líbero reforça a urgência de um posicionamento institucional claro diante do avanço de discursos autoritários no ambiente universitário. Os estudantes prometem manter a mobilização e seguir pressionando por medidas exemplares, que garantam a integridade e a diversidade no espaço acadêmico.

FONTE/CRÉDITOS: Carolina Costa - DIVERSA AM
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