Na última semana, o POLÍTICA DIVERSA denunciou cartazes colados pelo Colégio e Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, que continham referências ao grupo extremista Ku Klux Klan acompanhadas da frase “Deus, Pátria e Família” (retomada do facismo italiano) e de uma pessoa negra enforcada com um javali no lugar do rosto.
Os panfletos, assinados com o logotipo da instituição de ensino, geraram espanto principalmente entre pessoas negras. No entanto, após a cobertura da semana passada, uma mulher, após contato com o Diversa assumiu envolvimento na autoria dos papéis.
Segundo ela, o objetivo foi “questionar sobre o assunto da adolescente que foi encontrada desacordada no banheiro do colégio [Mackenzie]”, fazendo referência ao caso de uma menina negra e bolsista, que depois de sofrer uma série de ataques racistas de colegas, foi encontrada desacordada no banheiro da escola. “Foi configurado como tentativa de suicídio, mas ninguém tenta se suicidar com um saco na cabeça. A posição do colégio para os parentes foi chamar de ‘mimimi’ e síndrome de perseguição”, diz a moça que se apresentou como arte-educadora.
Durante a conversa, a entrevistada disse fazer parte de um grupo anarquista que teria feito os panfletos. O mesmo grupo afirmou, por meio de nota, que pensou no material como uma forma de correlacionar os linchamentos praticados pelo Ku Klux Klan com a omissão e segregação racial institucionalizada pelo Mackenzie.
Ela ainda mostrou um segundo cartaz que viria a ser colado pelas redondezas do bairro de Higienópolis, na capital paulista, em protesto contra a escola. “A intenção foi realmente movimentar novamente o tema e mobilizar uma resposta. [...] Chamei a atenção para uma coisa que realmente a gente sabe que ocorre, que é a presença do nazismo dentro desses grupos de direita”.

Os integrantes do grupo ainda se desculparam pela publicação, e disseram que estão “repensando a poética usada”. O pedido de desculpas, enviado de maneira exclusiva ao DIVERSA, ressaltou o arrependimento em uma ação que teria se tornado ambígua: “faltou ver por outro ângulo como poderia ser entendida a linguagem que usamos”.
De acordo com eles, a publicação não apresenta nenhuma relação com um panfleto que divulgava um grupo de Whatsapp criado para “libertar o Mackenzie” dos comunistas, que foi encontrado nas paredes do mesmo ambiente estudantil. Uma manifestação antirracista organizada como forma de repúdio aos cartazes, marcada para esta segunda-feira (2) em frente ao colégio, foi cancelada.
O caso está sendo acompanhado com atenção, especialmente diante do impacto emocional causado entre os alunos. Estudantes relataram que a ação causou pânico, sobretudo entre alunos negros, que associaram os cartazes a ameaças reais e não a uma tentativa de denúncia.
A crítica à ação, no entanto, não deve se confundir com linchamento virtual, e episódio levanta um debate necessário sobre a responsabilidade de quem atua com formação e mediação cultural: a arte-educação, sobretudo quando se propõe a abordar questões raciais, precisa ir além da intenção e considerar o público, o contexto, o momento e, principalmente, os efeitos.
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